Embora a ideia de que o papel da mídia brasileira é influenciar, ou mesmo moldar, a opinião pública em relação às questões políticas não seja surpreendente, entender como esse processo ocorre é essencial para qualquer entendimento mais profundo da sociedade contemporânea brasileira. Neste artigo, examinaremos brevemente os mecanismos pelos quais a mídia brasileira pode exercer essa influência e discutiremos as implicações deste fenômeno em termos de democracia, polarização política e responsabilidade social.
A formação da opinião pública: teoria e prática
Para compreender a influência da mídia sobre a opinião pública, é necessário primeiro abordar a questão da própria opinião pública. A opinião pública refere-se às visões e atitudes compartilhadas por uma maioria significante de pessoas em uma sociedade definida - no caso deste artigo, o Brasil.
O principal meio pelo qual a mídia influencia a opinião pública é através da teoria do agendamento ou agenda-setting. Essa teoria sustenta que, embora a mídia possa não ser capaz de determinar o que as pessoas pensam, tem um poder significativo sobre o sobre o que as pessoas pensam. Em outras palavras, a mídia pode estabelecer a 'agenda' das discussões da sociedade ao priorizar certas questões sobre outras e apresentá-las de uma maneira que destaque sua importância.
Influência direta e indireta
Há várias formas através das quais a mídia pode exercer sua influência sobre as opiniões públicas. Primeiro, há o processo direto: os veículos de comunicação reportam as notícias e acontecimentos do dia-a-dia, moldando assim a maneira como o público entende eventos específicos. Além disso, muitos desses veículos também publicam editoriais e colunas de opinião, que podem servir para reforçar ou desafiar os pontos de vista dominantes em um determinado momento.
Existe ainda a influência indireta, que é o processo pelo qual a cobertura da mídia estabelece os parâmetros dentro dos quais outras instituições - como partidos políticos, ONGs e movimentos sociais - desenvolvem suas estratégias e tentam influenciar a opinião pública por si mesmas. Isso pode ocorrer quando a mídia retrata certas questões como mais urgentes ou dignas de atenção, criando assim as condições para que outros atores sigam essa "agenda".
A influência da mídia na política brasileira
No Brasil, a relação entre a mídia e a política é historicamente complexa. Desde a época da ditadura militar (1964-1985), a mídia foi tanto instrumento quanto espaço de resistência contra o autoritarismo. A redemocratização exigiu mudanças significativas nos meios de comunicação, levando a um ambiente mais diversificado e plural em termos de opiniões e perspectivas representadas. No entanto, as mudanças na mídia também levaram à emergência de conglomerados de comunicação cada vez mais poderosos e centralizados.
As manifestações de 2013 como exemplo
O caso das manifestações populares que ocorreram no Brasil em junho de 2013 é ilustrativo do papel da mídia na formação da opinião pública sobre questões políticas. Inicialmente, grande parte da mídia retratou as manifestações como uma reação contra aumentos nas tarifas de transporte público e, portanto, não necessariamente posicionadas politicamente. No entanto, ao longo do tempo, a cobertura da mídia começou a enfocar aspectos mais politizados das manifestações, como críticas à corrupção no governo.
Este deslocamento na agenda midiática contribuiu para que o próprio foco das manifestações se tornasse mais fragmentado, com diferentes grupos buscando sua justificativa na cobertura da mídia e outros atores contestando o "narrativa" veiculada. Em última instância, esse fenômeno gerou um debate mais amplo sobre o papel legítimo da mídia na sociedade brasileira e os limites da opinião pública como expressão da vontade democrática.
Mídia e polarização política no Brasil contemporâneo
A relação entre a mídia e a opinião pública brasileira tem sido marcada por um crescente grau de polarização, principalmente nos últimos anos. A eleição presidencial de 2014, seguida pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff em 2016, acirrou tensões políticas e sociais que já estavam presentes no país. Nesse contexto, a cobertura da mídia das questões políticas tornou-se o centro deste processo de polarização.
Os efeitos do ambiente digital
A ascensão dos meios digitais como fóruns para discussão política tem contribuído para essa polarização. Nas redes sociais, por exemplo, é mais provável que os usuários sejam expostos a informações que confirmem suas crenças pré-existentes em vez de desafiá-las. Tais "câmaras de eco" podem exacerbar divisões e incompreensões no debate público. Adicionalmente, a crescente utilização de fake news como arma política também impacta diretamente a formação da opinião pública brasileira e amplifica a polarização existente.
Responsabilidade social e democracia: qual deve ser o papel da mídia?
No final, surge a questão sobre qual deveria ser o papel da mídia na formação da opinião pública em uma sociedade democrática e plural como o Brasil. Embora seja irrealista esperar que a mídia seja completamente imparcial, ela pode e deve fazer esforços para promover um debate informado e equilibrado, ao mesmo tempo em que respeite os princípios do jornalismo ético.
- Melhorar a diversidade de opiniões representadas nos veículos de comunicação;
- Promover pontes entre diferentes visões políticas através do diálogo construtivo;
- Combater a disseminação de fake news e promover uma educação midiática crítica;
- Apoiar a liberdade de imprensa como valor fundamental para a democracia.
Em resumo, a mídia brasileira influencia significativamente a opinião pública sobre questões políticas através de diferentes mecanismos. Estes incluem estabelecer a agenda do debate público, moldar o entendimento das questões e eventos específicos, bem como criar condições propícias para outros atores exercerem sua própria influência. Este poder vem com grandes responsabilidades em termos de promoção da democracia e construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.